sábado, novembro 05, 2005

A Afasia – O que é?

Antes de se perceber o que é a Afasia é necessário ter algumas noções do funcionamento do sistema nervoso. O Sistema Nervoso divide-se em Central e Periférico, sendo o Central o que nos interessa neste momento. Como constituintes do Sistema Nervoso Central temos a medula espinal e o encéfalo, este último constituído pelo cérebro, cerebelo e tronco cerebral. No fundo, tudo isto para chegar ao cérebro. O cérebro divide-se em dois hemisférios, direito e esquerdo, e cada um deles está dividido em quatro lobos: frontal, temporal, parietal e occipital. É possível identificar em cada um destes lobos áreas responsáveis por diversas funções, tais como actividades motoras, sentidos, linguagem, etc. Assim, podemos identificar áreas responsáveis pela linguagem nos lobos frontal e temporal. Na maior parte dos dextros e em mais de metade dos esquerdinos estas áreas situam-se no hemisfério esquerdo, sendo este o hemisfério da linguagem por excelência. No lobo frontal temos, então, a Área de Broca e no lobo temporal a Área de Wernicke:

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Falemos então de Afasia. Em termos gerais podemos definir afasia como uma perturbação da linguagem produzida pela lesão das respectivas áreas cerebrais. Esta lesão é, em geral, resultado de um acidente vascular cerebral. A afasia não é, no entanto, apenas uma quebra na capacidade de compreender e usar a linguagem, é algo que afecta os indivíduos de uma forma avassaladora, trazendo inúmeras implicações às suas vidas. A pessoa com afasia pode ver-se privada da compreensão e/ou expressão da linguagem falada e/ou escrita.
Numa tentativa de classificar os tipos de afasia, existem uma série de parâmetros a analisar:
Fluência do discurso: analisa-se o discurso do indivíduo de forma a classificá-lo como fluente ou não fluente. O discurso diz-se fluente quando existe: produção de fala fácil (sem bloqueios ou pausas anómicas); boa articulação dos sons da fala; débito normal ou superior ao normal; parafasias (palavras mal produzidas, quer seja pela substituição de sons, quer seja pela substituição total da palavra por outra) de todos os tipos; pouco conteúdo informativo. Por outro lado, o discurso diz-se não fluente quando: são produzidas frases curtas, estando presente muitas vezes o discurso telegráfico; existe estereótipo (repetição de uma única palavra ou som, sendo a única palavra usada no discurso); existe um bloqueio frequente no início do discurso; existem alterações prosódicas (entoação); existe um bom conteúdo informativo.
Compreensão: analisa-se a capacidade de compreensão auditiva de material verbal. A compreensão diz-se perturbada se o indivíduo não identifica objectos (que lhe sejam pedidos oralmente) e não compreende ordens simples ou perguntas de resposta “sim/não”.
Nomeação: analisa-se o grau de défice na nomeação, sendo que este tipo de défices está presente em todas as afasias – anomia, ou seja, dificuldade em produzir correctamente nomes.
Repetição: analisa-se a capacidade de reproduzir uma palavra dita por alguém. A repetição diz-se perturbada se o indivíduo não é capaz de o fazer.
Todos estes parâmetros devem ser analisados pelo uso de uma bateria de Avaliação, que contém uma série de provas para cada um deles, podendo concluir-se, através dos resultados, quais deles estão preservados.
Através da análise dos parâmetros acima referidos, é possível perceber qual o tipo de afasia que o indivíduo apresenta, de acordo com as características descritas na classificação das mesmas.
Mais à frente falarei dos diferentes tipos de afasia, da bateria de avaliação usada em Portugal e, claro, do papel do terapeuta da fala na reabilitação da pessoa com afasia.

Fonte:
Apontamentos da cadeira de PCIT III – Linguagem no Adulto, do 2º semestre do 2º ano, do ano lectivo 2004/2005.

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